Autor da ideia, poeta de Santa Catarina faz distribuição de preservativos que, unidos, viraram livro
O Fórum Social Mundial começa sob a proteção da Camisinha Poética. A invenção de um maranhense radicado em Itajaí (SC) ganha versão em inglês na época do evento. Se filhos forem gerados entre os participantes dos debates em Porto Alegre entre 25 e 29 de janeiro, não será por descuido de João da Cruz Ramos.
A luta deste homem contra as doenças sexualmente transmissíveis está por completar doze anos. Inicialmente, J. C. Ramos, como prefere ser chamado, distribuía apenas o preservativo, mas acabou se dando conta de que, para isso, já havia o trabalho governamental.
Era preciso algo mais. “Os jovens precisam encontrar alguma coisa que lhes fascine. Até levando em consideração que havia jovens com preconceito ou inibição de ir à farmácia comprar o preservativo”, afirma.
Outro fator é que, na opinião dele, a forma poética torna muito mais fácil de assimilar a necessidade de prevenção. Há frases como “os passageiros do trem do amor deveriam usar a camisinha como entrada” e “encontrei você pela manhã, só me importei em possui-la. Ao meio-dia, já fazia parte de sua noite; foi aí que o meu sol desapareceu para sempre”.
Frases educativas e poéticas foram se misturando ao longo dos anos até resultarem no primeiro livro “pré-lançado em embalagens de preservativo”. “Fragmento essencial” leva em sua capa imagens de algumas das caixinhas da Camisinha Poética.
Recompensas
A ajuda de uma fábrica de preservativos e o patrocínio da Prefeitura de Itajaí tornam possível o trabalho de L. C. Ramos. Mas ele não conta com uma equipe de auxílio para aumentar seu poder de divulgação. Uma das maiores distribuições ocorreu em 2007, quando o Fórum foi para Nairóbi, no Quênia. L. C. Ramos, que é também juiz do trabalho, integrante da Academia Itajaiense de Letras e da Sociedade de Escritores de Blumenau, carregou na bagagem 10 mil exemplares da Camisinha Poética.
Para Porto Alegre, a tiragem foi menor. São três mil embalagens e pelo menos quinhentas delas ficarão no Acampamento Intercontinental da Juventude, desta vez em Novo Hamburgo, “porque lá o pessoal vai usar com certeza”.
Há pelo menos uma reservada para o presidente Lula, que na terça-feira (26) encontrará com integrantes da sociedade civil no Gigantinho, em Porto Alegre, para debater avanços de seus oito anos de governo. O autor da ideia garante que chegará cedo na tentativa de garantir que o presidente conheça seu projeto.
Na quente tarde da capital gaúcha, no trajeto entre a Assembléia Legislativa e a Usina do Gasômetro, ele vai contando histórias de gente que gostou do preservativo com “um algo a mais”. Uma mulher que sempre teve dificuldades de falar sobre sexo se abriu quando a filha adolescente encontrou a Camisinha Poética deixada sobre a geladeira.
E um casal começou graças a uma conversa sobre o invento. O projeto de J. C. Ramos foi o pretexto para que um homem, numa viagem de avião, puxasse conversa com uma moça. Ele achou que falar de um “poeta meio doido” que misturou literatura e prevenção seria uma bela pedida naquele momento. “Acabaram discutindo meu trabalho, se conheceram melhor e acho até que usaram minha camisinha”, afirma.
Mas, e nosso poeta, não aproveita essa feliz deixa para se dar bem? Ele garante que não mistura trabalho e amor. Conta de uma vez que recebeu uma nem um pouco indireta de uma atriz famosa que, ao conhecer o trabalho, não titubeou: “Só uso se for com você”. J. C. Ramos jura de pés juntos que, naquele dia, não usou a camisinha.
Fonte: Rede Brasil Atual