Nestes tempos de pandemia, certamente há uma escassez imensa de sorrisos. Por isso, se você puder sorrir, sorria! Mesmo em quarentena.
E se for “adolescente da terceira idade”, daqueles que acham que não tem nenhum motivo para andar sorrindo por aí, “feito bobo”, como se diz mundo afora, é hora de ir diante do espelho, familiarizar-se com a sua própria imagem e treinar um sorriso. Evidentemente, um belo sorriso! Sim, com os dentes que você ainda tem. E se eles o abandonaram por qualquer motivo, não se preocupe! Sorria mesmo assim.
E lembre-se: existe sorriso mais lindo do que o sorriso dos recém-nascidos? Outra coisa: seus olhos também podem sorrir. Eles têm uma linguagem própria. Você sabia? E nesse momento é interessante que você aprenda a sorrir com os olhos, pois, além de transmitir simpatia, suavizará o impacto de sua máscara protetiva ― símbolo de cuidado e respeito principalmente para com o outro. Temos que ter em mente que o vírus, o verdadeiro vilão desse episódio, anda por aí totalmente mascarado.
Não conseguimos ver o seu rosto a olho nu. O que ele faz questão de nos mostrar é a sua crueldade enquanto rouba o que temos de mais precioso que é a vida. Então sorria! Pode ser que daqui a pouco os seus netinhos, filhos, outros parentes ou amigos farão uma chamada de vídeo pelo whatsapp. E que tal se os presenteasse com aquele sorriso do qual lhe falei? Aposto que ligariam mais vezes ainda. Pode crer!
Só para ilustrar o nosso bate papo: eu nunca me esqueço de uma amiga quase octogenária, ao lhe entregar o presente de aniversário lhe falei: com você está saudável e bonita. De repente ela ficou sisuda e disparou: “Eu meu amigo? Uma mulher doente como eu, onde você está vendo saúde em mim?” Fiquei muito sem graça. No outro dia fui até a sua casa lhe pedir desculpas.
Ela, sorrindo, me falou: “Obrigada, meu filho, pelo elogio de ontem. Eu realmente estava bem! Quer dizer, mais ou menos. Eu só disse aquilo na frente dos meus filhos para não acharem que eu estou um pouco melhor. Se eles descobrem, minguam-se os telefonemas e as visitas então…”
Eu a abracei e lhe disse sorrindo: “Sua ‘danadinha!’”.
Mas, com certeza, esse não é o seu caso e nem mais o dela também, pois a atenção de todos já está com você, inclusive a das autoridades de saúde do mundo inteiro. Quando dizem “cuide de seus idosos! Lave as mãos! Não leve o coronavírus para eles!.
Fique em casa!” e assim por diante, isso tem muito a ver com você. Então sorria!
E se algum “engraçadinho” vier lhe perguntar: “Está rindo do quê?”, aí você terá um cabedal de argumentos. Pode começar assim: Estou sorrindo porque estou viva! Estou sorrindo porque não fui infectada pelo coronavírus.
Estou sorrindo porque já chorei e orei muito por todos aqueles que não tiveram a mesma sorte que eu, e suas vidas foram ceifadas, seus sonhos interrompidos. Estou sorrindo porque as crianças e os jovens são quase imunes ao coronavírus.
Estou sorrindo por parecer curada das diversas enfermidades que me atormentavam diuturnamente, inclusive a falta de atenção. Estou sorrindo porque estou sentindo no ar um senso de igualdade. Diria até assim: “Não importa o tamanho do pássaro, estão todos engaiolados” e no final vão valorizar muito mais a liberdade.
Estou sorrindo porque deixei um pouco de lado alguém que era minha amiga de todas as horas a televisão. Agora voltei a conviver com os livros também e com eles estou reaprendendo a raciocinar e ter opinião própria. Já li três livros nesta quarentena.
E agora estou na metade de um livro que espero que você já tenha lido: O mundo de Sofia – romance da história da filosofia. Quem é o autor? É aquele menino, o Jostein Gaarder. Foi nele que aprendi que Francis Bacon já dizia que “saber é poder” A minha velha amiga de todos os dias estava, no entanto, transformandome em uma repetidora de notícias, principalmente de notícias desagradáveis, e não me fazia pensar; me dava tudo “pronto” e eu não tirava os olhos dela.
Não rompemos totalmente, mas aprendemos que tudo tem limite. Estou sorrindo porque conheci os verdadeiros heróis dessa “guerra” chamada pandemia e quando tudo isso terminar eu espero que, antes do primeiro jogo desportivo, antes do primeiro show de famosos ou até mesmo na apresentação das Olimpíadas ou Copa do Mundo, possa haver uma grande homenagem ao pessoal da saúde, da limpeza, dos transportes, da alimentação, da segurança, à equipe de cientistas e pesquisadores e a todos que deixaram os seus lares e foram para a frente das batalhas a fim de garantir a manutenção da vida dos que ficaram em suas casas. Todos eles merecem medalhas de ouro.
Estou sorrindo porque, ao falar em cientistas e pesquisadores, agarro-me na esperança de que muito em breve um cientista brasileiro, acompanhado por outros do mundo inteiro, anuncie a descoberta do remédio e da vacina que representarão a cura e a prevenção ao covid-19. E o mundo inteiro gritará: “Acabooou! Acaboou! Acaboou! Vencemos o coronavírus”.
Estou sorrindo porque, se eu quiser, borboletas coloridas, flores perfumadas, pássaros cantantes, luas novas, aurora boreal, pôr do sol, arco-íris, fadas, gnomos e anjos todos os dias virão me visitar e me ajudarão a alimentar os meus sonhos e me encantar com a beleza que é o viver.
Estou sorrindo porque sei que os sobreviventes dessa “guerra” precisam acreditar que existe uma força maior que comanda tudo. Eu a chamo de Deus. E não me importa como você a chama. Importa-me sim que ela precisa ser respeitada!
Estou sorrindo porque vislumbro que os atores dessa grande peça universal hão de compreender que alguma coisa mudou no “Cosmos”, que o automático como impulso da vida se tornou inservível. A atenção plena terá um valor inestimável e a linguagem dos olhos terá um novo conceito. Quiçá, tal qual crianças que brincam com a neve, com a areia na praia, pessoas, casais e famílias de um modo geral, sorrindo, possam jogar, uns nos outros, porções generosas de respeito, carinho e poesia.
Mas você quer saber mesmo? Eu estou rindo é porque, nesta quarentena, estou assimilando, de modo mais assertivo, o que é tolerância, gratidão, respeito às adversidades, resiliência, compreensão e altruísmo.
Estou sorrindo porque não sou cega e nem surda e, para usar a sua linguagem, posso curtir essa sua “brincadeirinha” com essa menina de 69 anos. E sem julgamento! Neste momento, volto aos meus dezoito anos que deve ser a sua idade.
Estou sorrindo porque sei que logo irei encontrá-lo em uma praça florida onde poderemos falar de minha geração e saber por você um pouco mais da sua, que é tão tecnológica… Aí não importará se é maio, junho ou julho.
O importante mesmo é que tudo voltou a florir… Já vai ser primavera.
Fonte: regatanews.com.br